Uma ode à nobre arte da desistência


Eu obviamente topei.
O sr. raves combinou tudo, e logo me vi frente a frente com Nigel ooker,
o autor do meu mais novo livro preferido. The ouse é o café local, fica a
apenas seis quarteirões da minha casa. A maioria da clientela é mais velha, mas
isso não me incomoda em nada, porque, sinceramente, não sou muito fã da
minha geração.
Srta. O are disse ooker ao chegar. Assenti, e ele me estendeu a mão.
Trocamos um cumprimento. Pode me chamar de ooker. Não sou muito
adepto de senhor.
Ele devia ter algumas décadas a mais que o sr. raves. Tufos de cabelo branco
saltavam de suas enormes orelhas a calça faltava no tornozelo e sobrava na
cintura o suéter de tric trançado era, além de grande demais, puído e com
aparência meio suja. Para completar, ele usava o cabelo todo puxado para cima
nas laterais e inflado num topete como o do Elvis só que grisalho.
Esta bela jovem realmente quer tomar um café na companhia deste velho
aqui? perguntou ele, apontando para o próprio rosto. Como foi que dei
uma sorte dessas?
Nós nos instalamos e fiz o pedido, por minha conta.
Diga começou ele.
Respirei fundo antes de falar
O ceifador de chicletes é meu novo manifesto pessoal. Não sabia que
existiam pessoas como eu, mas elas com certeza existem. E o senhor também me
entende. por isso que
Entendi disse ele, e deu uma risadinha. á chega.

continuei

Por que seu livro está fora de catálogo?
Provavelmente porque não é muito bom respondeu ele, e riu mais uma
vez. Não tenho formação como escritor. Eu só tinha essa história na cabeça e
precisava colocá-la no papel. oi como ser acometido por uma febre insistente, e
o remédio era escrever. Não acreditei quando publicaram e, aliás, nem sei por
que enviei o manuscrito para avaliação. Deve ter sido um surto duplo de
insanidade meu e do responsável por aquela editora obscura, que faliu logo
depois de publicar meu livro. Vai entender. Só tiveram tempo de imprimir uma
tiragem pequena.

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