A rede é a mensagem


A Internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje o
que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia ser
equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão de
sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da
atividade humana. Ademais, à medida que novas tecnologias de geração e
distribuição de energia tornaram possível a fábrica e a grande corporação
como os fundamentos organizacionais da sociedade industrial, a Internet
passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era da
Informação: a rede.
Uma rede é um conjunto de nós interconectados. A formação de redes é
uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em
Internet. As redes têm vantagens extraordinárias como ferramentas de
características essenciais para se sobreviver e prosperar num ambiente em
rápida mutação. É por isso que as redes estão proliferando em todos os
domínios da economia e da sociedade, desbancando corporações
verticalmente organizadas e burocracias centralizadas e superando-as em
desempenho. Contudo, apesar de suas vantagens em termos de flexibilidade,
as redes tiveram tradicionalmente de lidar com um grande problema, em
contraste com hierarquias centralizadas. Elas têm tido considerável
dificuldade em coordenar funções, em concentrar recursos em metas
específicas e em realizar uma dada tarefa dependendo do tamanho e da
complexidade da rede.
Durante a maior parte da história humana, diferentemente da evolução
biológica, as redes foram suplantadas como ferramentas de organizações
capazes de congregar recursos em torno de metas centralmente definidas,

alcançadas através da implementação de tarefas em cadeias de comando e
controle verticais e racionalizadas. As redes eram fundamentalmente o
domínio da vida privada; as hierarquias centralizadas eram o feudo do poder
e da produção. Agora, no entanto, a introdução da informação e das
tecnologias de comunicação baseadas no computador, e particularmente a
Internet, permite às redes exercer sua flexibilidade e adaptabilidade, e afirmar
assim sua natureza revolucionária. Ao mesmo tempo, essas tecnologias
permitem a coordenação de tarefas e a administração da complexidade. Isso
resulta numa combinação sem precedentes de flexibilidade e desempenho de
tarefa, de tomada de decisão coordenada e execução descentralizada, de
expressão individualizada e comunicação global, horizontal, que fornece uma
forma organizacional superior para a ação humana.
No final do século XX, três processos independentes se uniram,
inaugurando uma nova estrutura social predominantemente baseada em
redes: as exigências da economia por flexibilidade administrativa e por
globalização do capital, da produção e do comércio; as demandas da
sociedade, em que os valores da liberdade individual e da comunicação aberta
tornaram-se supremos; e os avanços extraordinários na computação e nas
telecomunicações possibilitados pela revolução microeletrônica. Sob essas
condições, a Internet, uma tecnologia obscura sem muita aplicação além dos
mundos isolados dos cientistas computacionais, dos hackers e das
comunidades contraculturais, tornou-se a alavanca na transição para uma
nova forma de sociedade — a sociedade de rede —, e com ela para uma nova
economia.
A Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a
comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala
global. Assim como a difusão da máquina impressora no Ocidente criou o
que MacLuhan chamou de a “Galáxia de Gutenberg”, ingressamos agora num
novo mundo de comunicação: a Galáxia da Internet. O uso da Internet como
sistema de comunicação e forma de organização explodiu nos últimos anos
do segundo milênio. No final de 1995, o primeiro ano de uso disseminado da
world wide web, havia cerca de 16 milhões de usuários de redes de
comunicação por computador no mundo. No início de 2001, eles eram mais
de 400 milhões; previsões confiáveis apontam que haverão cerca de um
bilhão de usuários em 2005, e é possível que estejamos nos aproximando da
marca dos dois bilhões por volta de 2010, mesmo levando em conta uma

desaceleração da difusão da Internet quando ela penetrar no mundo da
pobreza e do atraso tecnológico. A influência das redes baseadas na Internet
vai além do número de seus usuários: diz respeito também à qualidade do
uso. Atividades econômicas, sociais, políticas, e culturais essenciais por todo
o planeta estão sendo estruturadas pela Internet e em torno dela, como por
outras redes de computadores. De fato, ser excluído dessas redes é sofrer uma
das formas mais danosas de exclusão em nossa economia e em nossa cultura.
Contudo, apesar da sua difusão, a lógica, a linguagem e os limites da
Internet não são bem compreendidos além da esfera de disciplinas
estritamente tecnológicas. A velocidade da transformação tornou difícil para
a pesquisa acadêmica acompanhar o ritmo da mudança com um suprimento
adequado de estudos empíricos sobre os motivos e os objetivos da economia
e da sociedade baseadas na Internet. Tirando proveito desse vácuo relativo de
investigação confiável, a ideologia e a boataria permearam a compreensão
dessa dimensão fundamental das nossas vidas, como frequentemente ocorre
em períodos de rápida mudança social. Algumas vezes isso assumiu a forma
de profecias futurológicas baseadas na extrapolação simplista de
consequências sociais das maravilhas tecnológicas que emergem da ciência e
da engenharia; outras vezes, aparece como distopias críticas, denunciando os
efeitos supostamente alienantes da Internet antes mesmo de praticá-la. A
mídia, ávida por informar um público ansioso, mas carecendo da capacidade
autônoma de avaliar tendências sociais com rigor, oscila entre noticiar o
espantoso futuro que se oferece e seguir o princípio básico do jornalismo: só
notícia ruim é notícia.

O que é História


Nos poucos últimos anos antes de sua morte em novembro de 1982,
Carr estava preparando uma edição substancialmente nova de Que é história?
Não desanimado pelos reveses ao progresso humano que caracterizaram os
vinte anos decorridos desde a primeira edição em 1961, Carr declara em seu
Prefácio que a intenção do novo trabalho era “esboçar uma pretensão, se não
de uma perspectiva otimista, de qualquer forma de uma perspectiva mais
saudável e mais equilibrada para o futuro”.
Apenas o prefácio foi terminado. Mas entre os documentos de Carr uma
grande caixa contém, junto com um pacote cheio de resenhas e
correspondências relativas à edição de 1961, meia dúzia de pastas marrons
com papel-almaço ostentando os títulos: “História - Geral; Causalidade -
Determinismo -Progresso; Literatura e Arte; Teoria da Revolução e
Violência; Revolução Russa; Marxismo e História; Futuro do Marxismo”. Ele
obviamente pretendia trabalhar muito mais antes de completar a segunda
edição. As pastas continham os títulos de muitos livros e artigos sobre os
quais ele ainda não fizera anotações. Mas também continham material que já
fora parcialmente processado: separatas selecionadas, artigos recortados de
jornais e numerosos apontamentos manuscritos em pedaços de papel de
rascunho de vários tamanhos. As cartas trocadas com Isaac Deutscher, Isaiah
Berlin, Quentin Skinner e outros, sobre filosofia e metodologia da história,

também estão incluídas nas pastas, evidentemente com a intenção de utilizá-
las para a nova edição. Anotações eventuais datilografadas ou manuscritas

são claramente rascunhos iniciais de sentenças ou parágrafos. Não se tem

nenhum plano para a nova edição proposta, mas um apontamento registra:
Desordem da História
Investidas da Estatística

Psicologia Estruturalismo

Desordem da Literatura
Lingüística
Utopia etc.

[um outro papel de rascunho registra:
“Último capítulo
Utopia
Significado da História”]
Carr evidentemente pretendia escrever novas seções ou capítulos
tratando de tópicos negligenciados ou inadequadamente tratados na primeira
edição, assim como ampliar os capítulos existentes de Que é história? com
respostas aos críticos e material adicional ilustrando e algumas vezes
corrigindo seu raciocínio. Algumas vezes um livro inteiramente novo sobre
nossas inquietações e o mundo pelo qual deveríamos trabalhar parece estar
lutando para emergir de suas extensas anotações e apontamentos. Certamente
ele pretendia produzir um capítulo final, ou capítulos, talvez uma versão
totalmente reescrita da Conferência n° 6, sobre “O Horizonte Ampliado”, que
apresentaria sua própria opinião sobre o significado da história e sua visão do
futuro, mais diretamente relacionada às preocupações políticas atuais do que
qualquer de seus escritos anteriores.
Carr evidentemente viu pouca razão para modificar o argumento de
suas duas primeiras conferências sobre o historiador e seus fatos e o
historiador e a sociedade. Como um exemplo das falsas pretensões da

abordagem empirista dos fatos históricos, ele cita Roskill, o eminente
historiador naval, que exaltou “a moderna escola de historiadores”, que
“consideram sua função como não mais que reunir e registrar os
acontecimentos de um período com precisão escrupulosa e imparcialidade”.
Para Carr, esses historiadores, se realmente se comportavam como
pretendiam, se assemelhariam ao herói de um conto do escritor argentino
Borges (traduzido para o inglês como “Funes the Memorious”), que nunca
esquecia nada do que havia visto, ouvido ou vivenciado, mas admitia que,
conseqüentemente, “Minha memória é um amontoado de restos”. Funes não
generalizar, fazer abstrações”.

1 Carr definiu e repudiou o empirismo em
história e nas ciências sociais como “crença em que todos os problemas
podem ser resolvidos pela aplicação de algum método científico isento de
valores, isto é, que existe uma solução correta objetiva e o caminho para
alcançá-la - as supostas pretensões da ciência transferidas para as ciências
foi considerado por Lukács como anti-histórico, no sentido de que apresentou
uma reunião de eventos, sociedades e instituições mais do que um processo
de avanço de um para outro. “A história”, escreveu Lukács, “torna-se uma
coleção de anedotas exóticas.”
2

As anotações de Carr fornecem um apoio significativo para este ataque
ao empirismo. Gibbon acreditava que a melhor história só poderia ser escrita
por um “historiador-filósofo”, que distinguisse aqueles fatos que dominam
um sistema de relações:

3 ele proclamou seu débito a Tácito como “o primeiro
dos historiadores que aplicou a ciência da filosofia ao estudo dos fatos”.
4
Vico distinguiu il certo (o que é fatualmente correto) de il vero; il certo, o
objeto de coscienza, era particular ao indivíduo, il vero, o objeto de scienza,
era comum ou geral.

PORTANTO,TODOSSEREMOSEMPREENDEDORES


Mas a liberdade tem um preço. Teremos que nos acostumar com
um novo tipo de organização, muito menos paternalista do que
temos hoje.
Um sistema mais horizontal exige que todos tenham postura de
dono.
Atuais funcionários terão que despertar a autogestão, capaz de
realizar tarefas sem cobrança exterior.
Gerentes e diretores terão que aprender a trabalhar sem
hierarquia, em organismos onde todos percebem-se empoderados.
Empreendedores têm o dever de derreter suas atuais estruturas
empresariais em favor de modelos distribuídos. Mas, principalmente:
têm o dever de compartilhar a sua consciência empreendedora – a

capacidade de realizar – com aqueles que ainda não a possuem.
Essa é uma missão de todos.
Como disse o Prêmio Nobel Muhammad Yunus: “Todos somos
empreendedores, mas muitos de nós ainda não tiveram a
oportunidade de descobrir”.

OCONCEITO DEEMPREENDEDOR

Empreendedor não significa, necessariamente, abrir uma
empresa.
Empreendedor é aquele que não aceita a realidade de maneira
resignada. Motivado pelo desejo de mudança para gerar impacto
positivo no mundo, ele ajuda a coconstruir uma iniciativa.
O que é, como vai ser e o porquê da existência dessa iniciativa, só
o empreendedor poderá dizer.
Minha definição de empreendedor é simples:
O indivíduo que tem consciência do seu empoderamento – por
isso, assume com autonomia o rumo da sua vida – e constrói
iniciativas que mudem a realidade para melhor.

***

Sobre empoderamento: todos nós já estamos empoderados. A
questão é que, infelizmente, muitos ainda enxergam um mundo

***

Sobre autonomia: de Kant a Piaget, a palavra autonomia sempre é
recorrente entre os grandes pensadores. A melhor definição que
consegui foi: “Autonomia é a capacidade de governar a si mesmo,
numa escolha racional e emocional, com decisões conscientes e

sabedoras das suas imediatas consequências, não determinadas por
influências invisíveis como o medo, a pressão social ou a
conformidade”.
Portanto, o empreendedor é a pessoa que possui recursos
emocionais suficientes para tomar as decisões pela sua própria
cabeça.
E viver de forma plena, como ser humano consciente e capaz de
se fazer feliz.

***

Sobre construir uma iniciativa: ela não precisa ser,
necessariamente, profissional. Pode ser uma ONG que luta contra a
fome, uma associação de pais que pretendem educar os próprios
filhos, um grupo de estudos de filosofia – ou até coisas menos
pretensiosas.
Mais importante do que a iniciativa é o construir – é o fazer –, e
não aceitar de forma indiferente o mundo como ele é.
Entretanto, quando atingirmos um mundo horizontal, o simples
fato de participar de iniciativas profissionais já significará
coconstruí-las.
Ou seja: quando há ausência de hierarquia e todos são sócios, o
simples fato de participar de um novo projeto já nos tornará
automaticamente empreendedores.
***

Sobre mudar a realidade para melhor: a alienação pode fazer o ser
humano insensível. Mas ao trazermos o indivíduo para um nível de
consciência avançado, ele retoma à sua natureza generosa.
A verdadeira essência do empreendedorismo é a bondade.

A NATURALIDADE DE HOJE ÉO ABSURDO DO AMANHÃ


Num passado recente, a sociedade era dividida entre os livres, de
pele alva, e os escravos, de tez escura.
Para a grande maioria das pessoas que viviam na época, dividir a
cidadania pela cor da pele era uma circunstância que se aceitava –
ou com naturalidade, ou com resignação. Fosse você casa-grande,
fosse você senzala.
Como sociedade, não havia um inconsciente coletivo formado que
questionasse com firmeza essa segregação. Os poucos que o faziam
era na esfera privada – nunca pública. Brancos com medo do
julgamento alheio. Negros com medo da possibilidade de retaliação.
Essa crença era acatada e passada para as gerações futuras, que
continuariam a perpetuar um mindset: uns merecem liberdade.
Outros, não.
Hoje, a sociedade adquiriu o nível de consciência necessário para
condenar esse absurdo. Não por acaso, racismo é um crime
inafiançável. Mas até a Lei Áurea, até 1888, era assim que vivíamos.
Poucos tinham coragem de desafiar o status quo.
Como o racismo, podemos citar o voto feminino. Apesar de
algumas pioneiras, o voto como direito adquirido só foi decretado em
1932. Até então, boa parte da sociedade entendia que esse era um
contexto natural: homens votam; mulheres, não.
Não faz muito que a educação infantil era baseada na punição
física. Pais agrediam os filhos com palmadas. Professores aplicavam
castigos inconcebíveis para os dias de hoje, como ajoelhar no milho
ou o uso da palmatória.
Hoje, só de imaginarmos a violência contra uma criança, a
indignação é imediata.
Não faz muito que a sociedade se abriu para as diferentes
condições sexuais. Se pensarmos que, há algumas décadas,
qualquer coisa diferente da heterossexualidade era rapidamente
taxada de doença, evoluímos. E muito.
Para você ter uma noção, apenas em maio de 1990 é que a

Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade do CID –
Classificação Internacional das Doenças Vigentes.
E o que dizer do Apartheid? Só a partir de 1994, com a eleição de
Nelson Mandela, é que a África do Sul pôde enxergar um novo
horizonte de igualdade à sua frente.
Estamos falando de mudanças muito recentes. A abolição veio há
apenas 126 anos. O sufrágio feminino há 82. As mudanças no CID e a
Revolução de Mandela há menos de 30.
O que nos leva a uma óbvia conclusão: as verdades de hoje viram
os absurdos do amanhã.
Diferente de Claudio Ptolomeu – que garantia por A + B que a
Terra era o centro do sistema solar, e só teve sua teoria contestada
quatorze séculos mais tarde por Nicolau Copérnico – vivemos
tempos em que novas ideias surgem a todo momento, com a
capacidade de desmoronar verdades da noite para o dia.
E é com essa pretensão que proponho um questionamento: será
que não estamos tratando com naturalidade a forma como
estruturamos as empresas, os empregos e o trabalho?
Será que não estamos defendendo um modelo de que, daqui a
alguns anos, vamos nos envergonhar (justamente pela sua natureza
controladora)?
Será que não é hora de pensarmos em novas possibilidades?
Enquanto estivermos imersos em certezas, enquanto não
considerarmos novas alternativas, continuaremos fazendo tudo
como sempre foi.
Portanto, este livro é um convite a uma reflexão. Um convite a
uma nova forma de enxergar a autonomia do ser humano, e –
consequentemente – o empreendedorismo, a gestão e a vida
profissional.
Este livro é um convite a experimentarmos um novo formato de
trabalho.
Certamente para alguns soará absurdo.
Mas prefiro sempre ser o absurdo de hoje do que o absurdo do
amanhã.

OFUTURO DASEMPRESAS

A Revolução Digital nos fez despertar para uma nova consciência
em todos os níveis da sociedade. Como não poderia deixar de ser,
também afetou sensivelmente a consciência dos dois lados do
balcão: tanto de empregados quanto dos empregadores.
Estamos diante de um efeito dominó que nos levará para a
mudança mais radical na história do trabalho.
Num futuro próximo, não haverá empresas. Pelo menos, não
como elas são hoje.
Seremos todos freelancers/autônomos/profissionais liberais.
Você poderá exercer a atividade que bem entender. De manhã será
professor, de tarde motorista, e à noite, músico.
Tudo vai depender do seu interesse, da sua capacidade e da boa e
velha lei de mercado.
Para isso, os reguladores de hoje (diplomas e titulações) serão
ainda mais fluidos, permitindo que você literalmente exerça milhares
de atividades profissionais ao longo da vida.
Inclusive, essa é outra diferença. Não haverá profissões (condição
estática), apenas atividades (condição fluida).
As empresas (estáticas) darão lugar a grupos de trabalho
(fluidos), que se reunirão ao redor de propósitos comuns.
Eles durarão o tempo que fizer sentido para os participantes. E
não o tempo que fizer sentido nos contratos e nas suas respectivas
legislações.
Não haverá chefe ou contratante. As lideranças serão
circunstanciais e rotativas, nunca fixas. Portanto, não haverá cargos
(estáticos), mas funções momentâneas (fluidas).
O propósito e o legado serão os líderes invisíveis.
Todos os envolvidos serão sócios e entrarão em acordo
preliminar para definir suas responsabilidades – e, por consequência,
suas percentagens.
Será o fim das jornadas de trabalho de oito horas (estáticas) para
uma auto-organização no formato que melhor servir ao grupo
(fluido).

Analise sabiamente o que fazer, depois, decida firmemente fazê-lo e, em seguida, execute com perseverança inquestionável.


Voltando ao caso de Henry Ford, de onde surgiu seu extraordinário
sucesso? Pode-se dizer que ele resultou de duas forças: do seu poder
pessoal e da maneira como ele usou esse poder pessoal para formar um
poder coletivo.
Como esse tópico é muito importante, vamos analisá-lo de uma
maneira mais detalhada:
Primeiro – Ford se concentrou em um propósito definido: desenvolver e
popularizar um automóvel que pudesse ser adquirido por qualquer
pessoa.
Segundo – Com esse propósito em mente e agindo constantemente para
realizá-lo, ele desenvolveu características pessoais importantes, como,
entre outras, imaginação, autoconfiança, determinação e persistência, que
lhe deram enorme poder pessoal.
Terceiro – Ele organizou uma equipe de pessoas que o auxiliaram
harmoniosamente na realização desse propósito. Ou seja: ele desenvolveu
um poder coletivo em torno de seu propósito definido.
Se isso levou Henry Ford a um tremendo sucesso, qual foi o
problema de seu colega que, como vimos no início desta lição, passou o
resto da vida trabalhando como mecânico na mesma oficina?
Provavelmente, foi a ausência de um propósito definido somada à
consequente falta de esforço organizado que o ajudasse a desenvolver o
poder necessário para realizá-lo.
Sem um propósito definido, ele foi incapaz de construir um esforço
organizado e seu poder pessoal se perdeu pelo caminho. Esse,
certamente, foi o único fator que distinguiu o desempenho desse
mecânico dodesempenho de Henry Ford. E atente-se: esse também é, na
maioria absoluta dos casos, o principal fator que nos separa do sucesso,
da riqueza e do reconhecimento que desejamos.
Entenda: sem um propósito definido, geralmente, passamos o dia
muito ocupados com coisas triviais e sem importância, esquecendo-nos
daquilo que é essencial e que poderia colaborar para o desenvolvimento
do nosso poder pessoal.
Dissipamos nossa energia e dispersamos nossos pensamentos a
respeito de diversos assuntos e nas direções mais variadas.

Nesse caso, em geral, vivemos presos aos problemas do momento e o
que realmente interessa acaba atropelado por atuações urgentes,
preocupações imediatas e ações reparatórias, mas sem foco.
E todo esse esforço, no fim das contas, não criará o esforço
organizado que desenvolverá em nós o poder pessoal necessário para
realizarmos nossos sonhos. Ao contrário, criará indecisão, insegurança,
fraqueza e, por último, a frustração de uma existência vivida em vão e,
portanto, sem sentido.
Para evitar que isso aconteça, é preciso definir um propósito. Ou seja,
você precisa ter claro, no presente, o que você deseja no futuro e como
irá conseguir. Você precisa definir hoje a moldura que servirá de
referência para suas escolhas e decisões futuras.
Uma vez que você defina seu propósito, cada momento de sua vida
— as atitudes de hoje, amanhã, do mês que vem ou do próximo ano —
será organizado em torno do contexto desse propósito.
Quando você souber o que quer, terá uma facilidade maior em
direcionar seu tempo e conduzir suas ações, desenvolvendo um esforço
organizado em torno de uma atividade específica, que, com o tempo, se
tornará seu poder pessoal e o levará ao sucesso.
Lembre-se:
QUANTO MAIOR SEU NÍVEL DE PODER PESSOAL, MAIOR

SERÁ O SEU SUCESSO.

4. A pessoa que, diante de duas coisas, hesita sobre qual deve fazer
primeiro, possivelmente, não fará nenhuma.
Vimos até aqui que o sucesso em qualquer empreendimento depende de
nosso poder pessoal resultante de um esforço organizado, e que o
primeiro passo na construção do esforço organizado é canalizar nossa
energia e nosso conhecimento em torno de um ponto específico, que
chamamos depropósito definido.
Uma vez que entendemos isso, torna-se fácil compreender a razão
pela qual a determinação de uma meta a ser alcançada é tão essencial.

Pense no assunto: se o sucesso é resultado direto do poder pessoal e
se o poder pessoal é resultado do esforço organizado em torno de um
propósito, como poderíamos obter sucesso sem um propósito definido?
Afinal, não se pode dizer que o esforço é organizado quando não há
um propósito específico em torno do qual organizamos nosso
conhecimento, tempo e energia. Por isso, definir um propósito para nossa
vida é o primeiro passo na busca do sucesso.
O que é, então, um propósito definido?
Apesar de podermos criar um propósito para inúmeros setores
empregamos aqui, é ter claro no presente o que desejamos alcançar no
futuro.
Imagine, por exemplo, que você queira construir uma casa.
Qual seria, nesse caso, o primeiro passo? O desejo, não é? Primeiro
você precisa desejar construir a casa, mas a vontade por si só não é o
suficiente.
Você precisa transformar esse desejo num firme propósito de
construção da casa. Quando esse propósito estiver claro e definido, sua
mente automaticamente começará a trabalhar na definição de um plano
para realizá-lo.
Isso nos leva a um ponto importante: para todas as realizações
humanas há sempre dois tipos de criação:
1 ― A Mental
2 ― A Física
Primeiro criamos no nosso pensamento aquilo que desejamos. E,
somente depois de tê-lo criado em mente, podemos concretizá-lo
fisicamente.
A criação mental, portanto, sempre vem antes. Sem ela, a criação
física não existe. Por isso, nossa primeira e maior responsabilidade é criar
o que queremos em nossa mente. É por meio dela que assumimos o
comando de nossa vida e nos colocamos na posição de cocriadores da
nossa realidade.

O encontro


Joana estava sentada no chão, recostada em um tronco cinzento e
pálido de uma majestosa árvore de faia. A copa muito densa permitia que
apenas uma tênue luz atingisse os seus cabelos alaranjados e o livro que
repousava em suas mãos — do qual ela não desviava os olhos havia um par
de horas.
Trouxera, além do livro, uma pequena manta para cobrir o solo, por
estar repleto de folhas frias e molhadas depositadas umas sobre as outras. Tal

acúmulo de folhas garantia uma beleza bucólica àquele lugar. Era bonito ver
como o outono transformava a paisagem do bosque, deixando tudo dourado.
O bosque de faias não era o local mais apropriado para uma jovem
dama frequentar, especialmente sozinha. Joana sabia disso, ainda mais após
as constantes invasões e batalhas que antecederam a restauração do rei ao
trono. Porém não conhecia outro lugar na redondeza onde pudesse ficar
sozinha e ler sem ser incomodada; e naquele dia em particular, desejava mais
do que algumas horas com a mente viajando em um livro, queria mesmo era
esconder-se do mundo. Estava irremediavelmente zangada com os seus pais,
novamente.
O silêncio do bosque com sua atmosfera enigmática e pouca
iluminação era o seu refúgio perfeito desde a infância. Ali escondia-se das
irmãs mais novas sempre que elas a incomodavam e tinha inclusive inventado
que o lugar era mal-assombrado, para que não se atrevessem a ir procurá-la
naquele local.
Cresceu e continuou indo ao bosque. Alguns bons minutos de
caminhada pela estrada margeada por uma verde campina e mais um pouco
por uma pequena trilha em meio às árvores e ela logo podia sentar-se em paz
para ler ou apenas pensar.
Devido à insegurança que o bosque agora lhe oferecia, ficava em
alerta ao menor ruído, assustava-se com qualquer crepitar de folhas ou galhos
e apurava-se em vigilância. Após o período das crises e violências, das
invasões estrangeiras ao seu país e a queda de Bonaparte, a paz parecia
apenas uma palavra esquecida em um espaço qualquer.
Mesmo assim, entre as faias ela sentia uma aprazível felicidade, sua
mente se esvaziava de todas as tolices românticas que ouvia das irmãs
durante o dia inteiro, das imposições do pai, e dos discursos enfadonhos de
sua mãe — sempre em favor do marido. Nos livros a realidade se mostrava
sem disfarces, sem devaneios e ilusões tolas. Talvez por isso os melhores
eram proibidos, e era um desses que Joana tinha nas mãos e que fazia seus
olhos arderem por quase esquecer de piscá-los. A França vivia um grande
período de transformação e os livros assumiam o dever de instruir as pessoas,
lhes mostrando a verdade com sabedoria e propagando uma liberdade que
não era aceita por alguns.
Joana estava no meio de uma reflexão sobre as linhas que acabara de
ler quando um relinchar de cavalo a assustou e fez com que ela se levantasse

com agilidade, abandonando o livro aos seus pés; porém, tão logo ao barulho,
percebeu que alguém se aproximava. Ajeitou o vestido e firmou seu olhar à
frente, procurando de onde vinha o som, foi quando viu surgir entre as
árvores um enorme cavalo negro de pelos muito vistosos, montado por um
jovem que Joana não conhecia.
— Quem é o senhor? — perguntou olhando para o alto, procurando
sustentar uma postura firme e que não revelasse o medo que sentia.
Joana mantinha seus olhos resolutos na direção do jovem, o mesmo
olhar altivo que lançava aos seus pais quando os desafiava ou teimava em ter
razão — o que fazia constantemente —, porém também estava pronta para
correr se fosse necessário.
— Mademoiselle. — Ele a saudou com um leve abaixar de cabeça. —
O que faz sozinha neste bosque? Por certo deve ser perigoso, não? —
perguntou segurando os arreios do cavalo, que se mexia impaciente erguendo
o dorso.
— Perigoso? Devo preocupar-me com o senhor? — Joana atreveu-se
a perguntar. Ele a olhou por breves segundos antes de responder.
— Asseguro-lhe que não.
— Pois bem, sendo assim, pode prosseguir viagem. — Ela retorquiu,
procurando demonstrar segurança em sua voz.
— Vejo que está acompanhada — disse ele. Joana pareceu não
compreender. — Refiro-me ao livro. É por isso que veio aqui? Para ler? —
apontou com os olhos para o livro recém-abandonado no chão e depois
encarou os olhos verdes de Joana.
— E por que isso lhe interessa? — Joana redarguiu com rudeza a fim
de encerrar o assunto. O olhar que ele lhe lançou ao falar do livro a deixou
constrangida e causou nela uma irritação singular. Joana devolveu o olhar da
forma mais dura que conseguiu.
Que olhar atrevido e arrogante. — Ele pensou analisando-a.
— A senhorita é sempre assim, arredia, e responde todas as perguntas
com outra pergunta?
— Assim como o senhor, ao que observo. E me chama de arredia?
Quem pensa que é para falar assim? Nem ao menos o conheço — retrucou
com sua costumeira ousadia.
Ao ouvir tais palavras ele saltou do cavalo e caminhou na direção de
Joana, tomando-lhe a mão e repousando nela um beijo — para seu total
espanto e constrangimento.

Todos os Caminhos


Agora levo uma vida falsa, uma vida apócrifa, clandestina e
invisível embora mais verdadeira do que se fosse real, mas eu era
ainda eu quando conheci Rodney Falk. Foi há muito tempo e foi em
Urbana, uma cidade do Middle West americano onde passei dois anos
nos finais da década de oitenta. A verdade é que cada vez que me
interrogo por que terei ido parar precisamente lá, respondo a mim
próprio que fui parar precisamente lá como poderia ter ido parar a
qualquer outro lugar. Contarei por que razão, em vez de ir parar a
qualquer outro lugar, fui parar precisamente lá.
Foi por acaso. Naquele tempo — faz agora dezessete anos —
eu era muito jovem, tinha acabado os estudos e partilhava com um
amigo um apartamento escuro e pestilento na calle Pujol, em
Barcelona, muito perto da plaza Bonanova. O meu amigo chamava-se
Marcos Luna, era de Gerona como eu e, na realidade, era mais e
menos que um amigo. Tínhamos crescido juntos, tínhamos brincado
juntos, tínhamos frequentado a escola juntos, tínhamos os mesmos
amigos. Desde sempre, Marcos queria ser pintor; eu não, eu queria ser
escritor. Mas tínhamos tirado duas licenciaturas inúteis, não tínhamos
trabalho e éramos pobres como rafeiros, de modo que nem Marcos
pintava nem eu escrevia, ou só o fazíamos nos poucos tempos livres
que nos deixava a tarefa quase exclusiva de sobreviver. Conseguíamos
a muito custo. Ele leccionava numa escola tão nojenta como o
apartamento onde vivíamos, e eu era tarefeiro numa editora de
negreiros (preparando originais, revendo traduções, corrigindo
provas), mas como os nossos salários de miséria nem sequer
chegavam para pagar o aluguer do apartamento e garantir o nosso
sustento, aceitávamos aqui e ali todos os trabalhos suplementares a
que conseguíamos deitar mão, por mais estranhos que fossem, desde

propor nomes a uma agência de publicidade para que esta escolhesse
de entre eles o de uma nova companhia aérea, até ordenar os arquivos
do Hospital de La Vale d'Hebron, passando por escrever letras de
Além disso, quando não estávamos trabalhando nem
escrevendo ou pintando nos dedicávamos a percorrer a cidade, a
fumar marijuana, a beber cerveja e a falar das obras-primas com que
um dia nos vingaríamos de um mundo que, apesar de ainda não
termos exposto um único quadro ou publicado um único conto,
considerávamos estar a ignorar-nos de uma forma flagrante. Não
conhecíamos pintores ou escritores, não frequentávamos cocktails ou
apresentações de livros, mas é provável que gostássemos de nos
imaginar dois boêmios numa época em que já não existiam boêmios
ou dois temíveis kamikazes dispostos a embater alegremente contra a
realidade; a verdade é que não passávamos de dois provincianos
arrogantes perdidos na capital, sozinhos, furiosos e decididos a por
nada deste mundo regressar a Gerona, porque isso equivalia a
renunciar aos sonhos de triunfo que tínhamos acalentado desde
sempre. Éramos brutalmente ambiciosos. Aspirávamos a fracassar.
Mas não a fracassar sem mais nem menos e de qualquer maneira:
aspirávamos a fracassar de uma forma total, radical e absoluta. Era a
nossa forma de aspirarmos ao sucesso.

MILIONÁRIO CONHECE BILIONÁRIO


A visão de Robert
Chicago, 6 de novembro de 2005
Primeiras horas de uma tarde de domingo. Dezenas de milhares de
pessoas estão assistindo a uma grande exposição de imóveis organizada pelo
Learning Annex, em Chicago. O hall de convenções está repleto de displays
de imóveis de alto custo e oportunidades de investimento. Nas salas menores,
instrutores compartilham seu conhecimento e sensatez sobre como os
participantes podem construir sua própria fortuna pessoal. No espaçoso salão
reina um burburinho contagiante. As pessoas estão empolgadas com o que
estão aprendendoe como isso poderá modificar sua vida financeira.
Nos bastidores, na grande sala onde as equipes de produção estão
trabalhando, a empolgação é diferente. O ambiente é tranquilo e, ao mesmo
tempo, eletrizante. Uma longa limusine preta se aproxima, e as pessoas
começam a murmurar: “Ele chegou! Donald Trump chegou!”
Estou parado ao lado de minha sócia e coautora, Sharon Lechter, no
salão verde, local em que os principais palestrantes esperam antes de se
apresentar; por isso, não vejo a chegada da limusine. Mas, ao ver dois
policiais atravessarem a porta do salão verde, fico sabendo que Donald
Trump está chegando. Apresso-me para abrir caminho para ele e sua
comitiva.
Parado na entrada do salão verde, vejo uma figura alta e imponente
descendo da limusine. Só poderia ser Donald Trump, aquela silhueta
conhecida dos milhões de telespectadores no mundo todo que assistem a O
Aprendiz. Aqueles que, como eu, têm a sorte de portar as devidas credenciais
espontaneamente formam duas fileiras.
Quase em fila, Donald Trump e sua comitiva caminham entre as duas
fileiras de admiradores, sorrindo e saudando-os. É uma forma de
cumprimento reservada à realeza ou a chefes de Estado. Se estivéssemos em
Hollywood, ele estaria pisando em um tapete vermelho.
Bill Zanker, fundador e CEO do Learning Annex, cumprimenta Donald,
acompanha-o ao salão verde e fecha a porta.

“Meu Deus!”, exclama uma jovem. “Ele é mais carismático ainda
pessoalmente!”
“É incrível como é alto!”, observa outra jovem. “Você viu o cabelo?”,
comenta outra. A maioria dos homens do grupo permanece em silêncio.
De repente, a porta do salão verde se abre. Os mais altos podem ver que
Donald está conversando com os repórteres. Bill Zanker sai e caminha em
minha direção.
“Você está pronto para apresentar Donald?”, pergunta Bill. “Robert
Kiyosaki, do Pai Rico, apresentando Donald Trump. A multidão adora isso!”
Donald Trump deixa o salão verde e caminha em nossa direção. Após
trocar algumas palavras com Bill em voz baixa, Donald vira-se para mim e
diz: “Olá, de novo. É você quem vai me apresentar?” Balanço a cabeça,
concordando.
“Ótimo, vejo que você ainda permanece na lista dos best-sellers do The
New York Times”, diz Donald. “Isso é excelente.” A seguir, abaixa um pouco
o tom de voz e acrescenta: “Quero conversar com você. Pode ser agora?”
“É claro”, respondo.
“Você é o autor número um de livros sobre finanças pessoais, e eu sou o
autor número um de livros sobre negócios. Deveríamos escrever um livro
juntos. Que tal?”
Surpreso pela sugestão, fiquei sem fala.
“É uma grande ideia!”, diz Bill Zanker, tentando preencher o vazio
causado por meu silêncio. “Com certeza será um best-seller!”
Por fim, eu me recupero e respondo, sem muita segurança: “Ótima ideia.
Vamos, sim.”
Sabendo que Donald não costuma trocar apertos de mão, arrisco-me a
estender a minha para confirmar se ele está falando sério. Ele está, e
apertamos as mãos. Donald vira-se para Keith, seu imponente segurança, e
diz: “Dê meu cartão a Robert.”
Keith, o segurança de quase dois metros de altura, deixa de ser uma
figura intimidadora; sorri, abre um estojo dourado e me estende um dos
cartões pessoais de Donald Trump. “Ligue para mim da próxima vez em que
estiver em Nova York, e começaremos a conversar sobre o livro”, diz
Donald. “Vou apresentá-lo a Meredith. Ela nos ajudará no projeto.”
Naquele momento, apresento Donald a Sharon e, uma vez mais,
trocamos um aperto de mãos.
É hora do show, portanto caminho em direção ao palco do anfiteatro,

onde mais de 24 mil fãs que ocupam o salão principal e as salas adjacentes
estão à espera de Donald Trump. Assim que termino minha breve introdução,
a canção-tema de O Aprendiz começa a ser ouvida, milhares de balões
dourados desprendem-se do teto e calorosos aplausos irrompem entre a
multidão quando Donald Trump surge no palco.

Rhysand


Mal passara das nove da manhã e Cassian já estava irritado.
O aquoso sol de inverno tentou, sem sucesso, sangrar entre as nuvens que
pairavam acima das montanhas Illyrianas enquanto o vento soava como um
estrondo sobre os picos cinza. Já havia uma camada de centímetros de neve
cobrindo o acampamento lotado, uma visão do que em breve recairia sobre
Velaris.
Estava nevando quando saí, ao alvorecer — talvez uma boa camada de
gelo já aguardasse no chão o meu retorno. Eu não tive a chance de perguntar
a Feyre durante nossa breve conversa pelo laço minutos antes, mas talvez ela
saísse para caminhar comigo. E me deixasse mostrar como a Cidade da Luz
Estelar brilhava sob neve fresca.
De fato, minha parceira e minha cidade pareciam estar a um mundo de
distância das atividades no acampamento Refúgio do Vento, aninhado em um
alto desfiladeiro montanhoso. Mesmo o vento frio que soprava entre os picos,
traindo o próprio nome do acampamento ao levantar leques de neve, não
impedia os illyrianos de executar suas tarefas diárias.
Os guerreiros deviam treinar nos diversos ringues que se abriam para uma
queda livre até o pequeno leito do vale abaixo; aqueles que não estavam
presentes tinham saído para patrulhar os entornos. Os machos que não tinham
conseguido passar na seleção para guerreiro deviam cuidar dos diversos

comércios, assumindo papéis de mercadores ou ferreiros ou sapateiros. Para
as fêmeas, restava o trabalho inferior.
Elas não enxergavam dessa forma. Nenhuma delas. Mas as tarefas
requeridas, independentemente das feéricas serem velhas ou jovens,
permaneciam as mesmas: cozinhar, limpar, cuidar das crianças, fazer roupas,
lavá-las... Havia honra em tais tarefas — era possível encontrar orgulho e
bom trabalho nelas. Mas não quando era esperado que todas as fêmeas ali
fizessem isso. E se fugissem desses deveres, qualquer uma das meia dúzia de
damas de acampamento ou quaisquer que fossem os machos que
controlassem a vida delas as puniriam.
E, assim, havia sido desde que conheci esse lugar, com o povo de minha
mãe. O mundo tinha renascido durante os meses de guerra, a muralha fora
explodida em nada e, no entanto, algumas coisas não mudavam.
Principalmente ali, onde a mudança era mais lenta do que as geleiras
derretendo por entre aquelas montanhas. Tradições que remontavam a
milhares de anos, deixadas praticamente inalteradas.
Até nós. Até agora.
Desviando minha atenção do acampamento agitado fora do limite dos
ringues de treino demarcados com giz, estampei uma expressão neutra
conforme Cassian enfrentava Devlon.
— As meninas estão ocupadas com as preparações para o Solstício —
dizia o senhor do acampamento, com os braços cruzados sobre o peito
inflado. — As esposas precisam de toda ajuda que puderem obter para tudo
ficar pronto a tempo. Elas podem praticar na próxima semana.
Eu tinha perdido a conta de quantas variações dessa mesma conversa
tínhamos tido durante as décadas em que Cassian insistira no assunto com
Devlon.
O vento açoitou os cabelos pretos de Cassian, mas o rosto do feérico
permaneceu rígido como granito quando ele se dirigiu ao guerreiro que
relutantemente nos treinara.
— As meninas podem ajudar as mães depois do treino. Diminuiremos o
exercício para duas horas. O resto do dia será o suficiente para auxiliar com
os preparativos.
Devlon desviou os olhos avelã para onde eu estava, a alguns metros de
distância.