A flutuação


A bolsa de valores — a aventura em série das pessoas abastadas —
não seria a bolsa de valores se não tivesse os seus altos e baixos.
Qualquer participante de um conselho administrativo que aprecie as
tradições de Wall Street já ouviu a réplica mordaz que, segundo
dizem, J. P. Morgan, o Velho, deu a seguinte resposta para um
conhecido ingênuo que se aventurara a perguntar ao grande homem o
que o mercado ia fazer. “Ele vai flutuar”, respondeu Morgan
secamente. E o mercado tem muitas outras características
inconfundíveis. Ao lado das vantagens e desvantagens econômicas
das bolsas de valores — a vantagem de oferecer livre fluxo de capital
para financiar a expansão industrial, por exemplo, e a desvantagem de
oferecer uma maneira extremamente conveniente para que os
desafortunados, os imprudentes e os crédulos percam seu dinheiro —,
o desenvolvimento delas criou todo um padrão de comportamento
social que inclui costumes, linguagem e respostas previsíveis para
eventos determinados. O que é verdadeiramente extraordinário é a
velocidade com que esse padrão emergiu logo após a criação, em
1611, da primeira bolsa de valores importante — um pátio descoberto
em Amsterdã —, e sua persistência (com variações, é bem verdade) na
Bolsa de Valores de Nova York na década de 1960. A atual negociação

de ações nos Estados Unidos — um empreendimento
desconcertantemente vasto, que envolve milhões de quilômetros de
fios telegráficos privados, computadores capazes de ler e copiar a
Lista Telefônica de Manhattan em três minutos e mais de 20 milhões
de participantes acionistas — pareceria bem diferente de um punhado
de holandeses do século XVII barganhando na chuva. Mas as regras
do jogo são praticamente as mesmas. A primeira bolsa de valores era,
inadvertidamente, um laboratório no qual novas reações humanas
eram reveladas. Do mesmo modo, a Bolsa de Valores de Nova York
também é um tubo de ensaio sociológico, contribuindo eternamente
para o autoentendimento da espécie humana.
O comportamento dos negociadores de ações holandeses pioneiros
está habilmente documentado em um livro intitulado Confusion of
Confusions
1
, escrito por um especulador do mercado de Amsterdã
chamado Joseph De la Vega; originalmente publicado em 1688, ele foi
reeditado em uma tradução inglesa há alguns anos pela Harvard
Business School. Quanto ao comportamento dos investidores e
corretores de valores norte-americanos atuais — cujas características,
assim como a de todos os negociadores de ações, são exageradas nos
tempos de crise —, ele pode ser claramente revelado ao se analisarem
suas atividades durante a última semana de maio de 1962, ocasião em
que o mercado de ações flutuou de maneira surpreendente. Na
segunda-feira, 28 de maio, a média Dow Jones de trinta proeminentes
ações industriais, que tem sido computada em todos os dias de
negociação desde 1897, caiu 34,95 pontos, ou mais do que já caíra
qualquer outro dia, exceto em 28 de outubro de 1929, quando a perda
foi de 38,33 pontos. O volume de negociações no dia 28 de maio foi de
9.350.000 ações — o sétimo maior volume de negociações na história
da Bolsa de Valores.

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