A rede é a mensagem


A Internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje o
que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia ser
equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão de
sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da
atividade humana. Ademais, à medida que novas tecnologias de geração e
distribuição de energia tornaram possível a fábrica e a grande corporação
como os fundamentos organizacionais da sociedade industrial, a Internet
passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era da
Informação: a rede.
Uma rede é um conjunto de nós interconectados. A formação de redes é
uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em
Internet. As redes têm vantagens extraordinárias como ferramentas de
características essenciais para se sobreviver e prosperar num ambiente em
rápida mutação. É por isso que as redes estão proliferando em todos os
domínios da economia e da sociedade, desbancando corporações
verticalmente organizadas e burocracias centralizadas e superando-as em
desempenho. Contudo, apesar de suas vantagens em termos de flexibilidade,
as redes tiveram tradicionalmente de lidar com um grande problema, em
contraste com hierarquias centralizadas. Elas têm tido considerável
dificuldade em coordenar funções, em concentrar recursos em metas
específicas e em realizar uma dada tarefa dependendo do tamanho e da
complexidade da rede.
Durante a maior parte da história humana, diferentemente da evolução
biológica, as redes foram suplantadas como ferramentas de organizações
capazes de congregar recursos em torno de metas centralmente definidas,

alcançadas através da implementação de tarefas em cadeias de comando e
controle verticais e racionalizadas. As redes eram fundamentalmente o
domínio da vida privada; as hierarquias centralizadas eram o feudo do poder
e da produção. Agora, no entanto, a introdução da informação e das
tecnologias de comunicação baseadas no computador, e particularmente a
Internet, permite às redes exercer sua flexibilidade e adaptabilidade, e afirmar
assim sua natureza revolucionária. Ao mesmo tempo, essas tecnologias
permitem a coordenação de tarefas e a administração da complexidade. Isso
resulta numa combinação sem precedentes de flexibilidade e desempenho de
tarefa, de tomada de decisão coordenada e execução descentralizada, de
expressão individualizada e comunicação global, horizontal, que fornece uma
forma organizacional superior para a ação humana.
No final do século XX, três processos independentes se uniram,
inaugurando uma nova estrutura social predominantemente baseada em
redes: as exigências da economia por flexibilidade administrativa e por
globalização do capital, da produção e do comércio; as demandas da
sociedade, em que os valores da liberdade individual e da comunicação aberta
tornaram-se supremos; e os avanços extraordinários na computação e nas
telecomunicações possibilitados pela revolução microeletrônica. Sob essas
condições, a Internet, uma tecnologia obscura sem muita aplicação além dos
mundos isolados dos cientistas computacionais, dos hackers e das
comunidades contraculturais, tornou-se a alavanca na transição para uma
nova forma de sociedade — a sociedade de rede —, e com ela para uma nova
economia.
A Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a
comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala
global. Assim como a difusão da máquina impressora no Ocidente criou o
que MacLuhan chamou de a “Galáxia de Gutenberg”, ingressamos agora num
novo mundo de comunicação: a Galáxia da Internet. O uso da Internet como
sistema de comunicação e forma de organização explodiu nos últimos anos
do segundo milênio. No final de 1995, o primeiro ano de uso disseminado da
world wide web, havia cerca de 16 milhões de usuários de redes de
comunicação por computador no mundo. No início de 2001, eles eram mais
de 400 milhões; previsões confiáveis apontam que haverão cerca de um
bilhão de usuários em 2005, e é possível que estejamos nos aproximando da
marca dos dois bilhões por volta de 2010, mesmo levando em conta uma

desaceleração da difusão da Internet quando ela penetrar no mundo da
pobreza e do atraso tecnológico. A influência das redes baseadas na Internet
vai além do número de seus usuários: diz respeito também à qualidade do
uso. Atividades econômicas, sociais, políticas, e culturais essenciais por todo
o planeta estão sendo estruturadas pela Internet e em torno dela, como por
outras redes de computadores. De fato, ser excluído dessas redes é sofrer uma
das formas mais danosas de exclusão em nossa economia e em nossa cultura.
Contudo, apesar da sua difusão, a lógica, a linguagem e os limites da
Internet não são bem compreendidos além da esfera de disciplinas
estritamente tecnológicas. A velocidade da transformação tornou difícil para
a pesquisa acadêmica acompanhar o ritmo da mudança com um suprimento
adequado de estudos empíricos sobre os motivos e os objetivos da economia
e da sociedade baseadas na Internet. Tirando proveito desse vácuo relativo de
investigação confiável, a ideologia e a boataria permearam a compreensão
dessa dimensão fundamental das nossas vidas, como frequentemente ocorre
em períodos de rápida mudança social. Algumas vezes isso assumiu a forma
de profecias futurológicas baseadas na extrapolação simplista de
consequências sociais das maravilhas tecnológicas que emergem da ciência e
da engenharia; outras vezes, aparece como distopias críticas, denunciando os
efeitos supostamente alienantes da Internet antes mesmo de praticá-la. A
mídia, ávida por informar um público ansioso, mas carecendo da capacidade
autônoma de avaliar tendências sociais com rigor, oscila entre noticiar o
espantoso futuro que se oferece e seguir o princípio básico do jornalismo: só
notícia ruim é notícia.

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