Você não vai conseguir sozinho


Se você quer mudar o mundo...
encontre alguém que o ajude a remar.

No treinamento do SEAL, aprendi cedo a valorizar o trabalho
em equipe e a necessidade de confiar em mais alguém para
me ajudar a vencer as tarefas difíceis. Para aqueles de nós que

éramos “girinos” na esperança de nos tornarmos homens-
rãs, um bote de borracha de 10 pés era usado para nos ensinar

essa lição fundamental.
Durante a primeira fase do treinamento, éramos obrigados
a carregar o bote para todo lugar aonde íamos. Erguendo-o
sobre nossas cabeças, saíamos correndo do alojamento e
atravessávamos a rodovia em direção ao refeitório. Corríamos
para cima e para baixo nas dunas de Coronado, curvados sob
seu peso. Remávamos sem parar de norte a sul ao longo da
costa, batendo contra a arrebentação, sete homens, todos
trabalhando juntos para levar o bote a seu destino.
Porém aprendemos algo mais em nossas viagens no bote.
Vez ou outra, um dos membros da tripulação estava doente ou
ferido, incapaz de se doar 100%. Muitas vezes, eu me sentia
exausto depois de um dia de treinamento, ou abatido por
causa de um resfriado ou de uma gripe. Nesses dias, os outros
assumiam a responsabilidade. Remavam com força máxima.
Mergulhavam os remos mais fundo. Ofereciam-me suas
rações para me dar uma força extra. E, quando era a minha
vez, eu devolvia o favor. Aquele pequeno bote de borracha nos
fez perceber que nenhum de nós conseguiria aguentar o
treinamento sozinho. Nenhum SEAL seria capaz de combater
sozinho. No final, todos precisamos de quem nos ajude a

enfrentar as dificuldades em tempos difíceis.

* * *

Nunca a necessidade de ajuda foi mais evidente para mim
do que 25 anos depois, quando comandei todos os SEALS da
Costa Oeste.
Eu era o comodoro do Grupo One das Forças Navais
Especiais em Coronado. Um capitão da Marinha. A essa altura,
eu já passara décadas liderando os SEALS ao redor do mundo.
Eu estava fora, em um salto de paraquedas de rotina, quando
a situação se complicou terrivelmente.
Voávamos em um C-130 Hercules, a 3.600 metros de
altitude, nos preparando para o salto. Pelo fundo da aeronave,
pude ver um lindo dia californiano. Nenhuma nuvem no céu.
O oceano Pacífico estava calmo, e, daquela altitude, podia-se
avistar a fronteira do México a poucos quilômetros de
distância.
O mestre de salto gritou: “Preparar!”. Então, na ponta da
rampa, pude ver o chão lá embaixo. O mestre me encarou nos
olhos, sorriu e gritou: “Vá, vá, vá!”. Mergulhei para fora da
aeronave, com os braços totalmente estendidos e as pernas
levemente dobradas para trás. A rajada de vento proveniente
da hélice me empurrou para a frente, até que meus braços
apanharam ar e eu estabilizei.
Verifiquei rapidamente o altímetro, para ter certeza de que
não estava girando, e depois olhei em volta, para me certificar
de que nenhum outro paraquedista estava perto demais. Em
20 segundos, eu tinha caído a uma altitude de 1.700 metros.
De repente, olhei para baixo e vi que um companheiro
tinha deslizado por baixo de mim e interceptava meu caminho
em direção ao solo. Ele puxou a corda do paraquedas, e pude
notar o paraquedas-piloto liberando o velame principal da
mochila. Imediatamente, apertei os braços dos lados do corpo,
forçando a cabeça para baixo na tentativa de escapar do
velame que eclodia. Tarde demais.

O velame explodiu diante de mim como um airbag, me
atingindo a 190 quilômetros por hora. Meu corpo ricocheteou
e rodopiou, fora de controle. Quase não senti o impacto. Por
alguns segundos, rodopiei freneticamente, tentando recuperar
a estabilidade. Como não conseguia ver o altímetro, não sabia
a quanto eu havia caído.
Instintivamente, alcancei o cordão do paraquedas e o
puxei. O paraquedas-piloto se soltou do pequeno bolso nas
costas da mochila, mas se enrolou em minha perna enquanto
eu continuava caindo em direção ao solo. Quando lutei para
me desembaraçar, a situação piorou. O paraquedas principal
foi acionado em parte, mas, com isso, se enroscou na outra
perna.
Levantando a cabeça para o céu, pude ver que minhas
pernas estavam amarradas pelas duas longas tiras de náilon
que conectam o paraquedas principal ao sistema de segurança
nas costas. Eu tinha um tirante enrolado em cada perna. O
paraquedas principal estava completamente fora da mochila,
mas preso a alguma parte do meu corpo.
Enquanto eu lutava para me livrar do enrosco, de repente
senti o velame me puxar para cima e começar a se abrir.
Quando olhei para minhas pernas, soube o que viria em
seguida.
Em segundos, o velame se encheu de ar. As duas tiras, cada
uma enrolada em uma perna, se romperam violentamente,
levando minhas pernas com elas. Senti minha pélvis se rasgar
ao meio. Os milhares de pequenos músculos que ligam a
pélvis ao resto do corpo se romperam nas articulações.
Minha boca se abriu e deixou escapar um grito que poderia
ser ouvido no México. Uma dor abrasadora percorreu meu
corpo, enviando ondas pulsantes da pélvis à cabeça. Violentas
convulsões musculares me atingiram no tronco, disparando
mais dor para os braços e as pernas. Então, como em uma
experiência de quase-morte, tive consciência do meu grito e
tentei me controlar, mas a dor era forte demais.

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