Entendo, disse ela, e desligou


Ele telefonou para o consultório médico e marcou uma consulta para a
manhã do dia seguinte. Foi para a cama cedo, acordou suado no meio da
noite e não conseguiu mais dormir. De manhã, não estava com vontade de
comer e, às dez, foi ao médico, que o mandou para o hospital para fazer
exames de sangue e de urina. Louis ficou esperando lá mesmo pelo
resultado dos exames, quando então a equipe médica decidiu interná-lo por
conta de uma infecção urinária.
Eles lhe deram antibióticos, e ele dormiu quase a tarde inteira e depois de
novo ficou acordado a maior parte da noite. De manhã já estava se sentindo
melhor, e eles lhe disseram que provavelmente seria liberado no dia
seguinte. Tomou café da manhã, depois almoçou e tirou um cochilo, e
quando acordou, por volta das três, ela estava sentada na cadeira ao lado da
sua cama. Ele olhou para ela.
Você não estava brincando, disse ela.
Você achou que eu estivesse?
Achei que você só tivesse dito que estava doente porque não queria mais
passar a noite comigo.
Eu tive medo de que você pensasse isso.
Achei que você tivesse desistido, ela disse.
Fiquei pensando em você ontem o dia inteiro, à noite e hoje o dia inteiro
também, disse ele.
O que você ficou pensando?
Em como você podia ter interpretado errado o meu telefonema. E em

como eu poderia explicar que ainda quero ir para a sua casa à noite e ficar
junto com você. Em como eu estava me sentindo mais interessado por isso
do que tinha me sentido por qualquer outra coisa fazia muito tempo.
Por que você não me ligou, então, para dizer isso?
Eu achei que pudesse ser pior, que ficaria parecendo mais ainda que eu
estava inventando esse mal-estar.
Gostaria que você tivesse tentado.
Eu devia ter tentado. Como foi que você descobriu que eu estava no
hospital?
Estava conversando com a Ruth, da casa ao lado, hoje de manhã, e ela me
perguntou: Você soube do Louis? E eu disse: O que é que tem o Louis? Ele
está no hospital. O que há com ele? Disseram que é algum tipo de infecção.
E foi assim que eu soube, disse ela.
Não vou mentir pra você, ele disse.
Está bem. Nenhum de nós vai. Você vai voltar lá em casa, então?
Assim que estiver me sentindo bem e tiver certeza de que me recuperei
disso. Bom te ver, ele disse.
Obrigada. Você está parecendo bem baleado no momento.
É que eu ainda não tive tempo de me produzir.
Ela riu. Não ligo pra isso, disse ela. Não foi o que eu quis dizer. Eu só
estava fazendo um comentário, uma observação.
Bem, você está com uma aparência ótima, disse ele.
Ligou para a sua filha?
Falei para ela pra não se preocupar, que só ia ficar no hospital mais um
dia e que o que eu tenho não é nada que inspire preocupação. Ela não
precisa faltar ao trabalho por causa disso. Não há nenhuma necessidade de
ela vir até aqui agora para me visitar. Ela mora em Colorado Springs.
Eu sei.
É professora, como eu era. E então ele parou de falar. Você quer tomar
alguma coisa? Posso chamar a enfermeira.
Não. Já estou indo embora.
Ligo para você quando tiver voltado para casa e estiver me sentindo bem.
Ótimo, disse ela. Já comprei cerveja.
Ela foi andando em direção à porta, e ele ficou observando até que ela
saísse do quarto. Louis ficou deitado na cama esperando o sono chegar mais

uma vez, mas logo trouxeram o jantar, que comeu assistindo ao noticiário,
depois desligou a televisão e ficou olhando lá para fora pela janela, vendo a
noite cair na extensa planície a oeste da cidade.

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