Agora estou rindo.


— Você está falando de Paul? Saímos uma vez, mas depois ele foi pego
com uma lata de cerveja no carro dos amigos.
— Em defesa do rapaz, ele não estava dirigindo — ressalta Rachel. Antes
de eu poder responder, ela ergue a mão. — Mas eu entendo. Você viu isso
como um sinal de alcoolismo iminente. Ou uma tomada de decisão ruim.
Ou... Qualquer coisa.
Elizabeth balança a cabeça.
— Você é muito exigente, Sierra.
Rachel e Elizabeth sempre pegam no meu pé em relação aos meus padrões
com garotos. Só que eu já vi muitas garotas acabarem com caras que as
derrubam. Talvez não no início, mas em algum momento. Por que
desperdiçar anos ou meses, ou até mesmo dias, com alguém assim?
Antes de chegarmos às portas duplas que levam de volta aos corredores,
Elizabeth dá um passo à frente e vira na nossa direção.
— Vou me atrasar para a aula de inglês, mas vamos nos encontrar para o
almoço, está bem?
Sorrio, porque sempre nos encontramos para o almoço.
Empurramos as portas e saímos nos corredores, e Elizabeth desaparece na
confusão de alunos.
— Mais dois almoços — diz Rachel. Ela finge secar lágrimas dos cantos
dos olhos enquanto caminhamos. — Isso é tudo o que temos. Quase me faz
querer...
— Para! — digo. — Não fala.
— Ah, não se preocupe comigo. — Rachel acena a mão com desdém. —
Tenho muita coisa para me manter ocupada enquanto você festeja na
Califórnia. Olha só: na próxima segunda-feira, vamos começar a desmontar o
cenário. Isso deve levar uma semana ou mais. Depois, eu vou ajudar o comitê
de dança a terminar de projetar o baile formal de inverno. Não é teatro, mas
gosto de usar meus talentos onde eles são necessários.
— Eles já têm um tema para este ano? — pergunto.
— Globo de neve do amor — responde ela. — Parece brega, eu sei, mas
tenho ótimas ideias. Quero decorar o ginásio todo para parecer que você está
dançando no meio de um globo de neve. Então, vou estar muito ocupada até
você voltar.
— Viu? Você quase não vai sentir saudade de mim — digo.

— Isso mesmo — diz Rachel. Ela me cutuca enquanto caminhamos. —
Mas acho bom você sentir saudade de mim.
E eu vou. Durante toda a minha vida, sentir saudade das minhas amigas
tem sido uma tradição de Natal.

Capítulo 2

O sol apenas espreita por trás das colinas quando estaciono a

caminhonete do meu pai na lateral da estrada de acesso enlameada. Puxo o
freio de mão e olho para uma das minhas vistas preferidas. As árvores de
Natal começam a poucos metros da janela do lado do motorista e continuam
por mais de quarenta hectares de colinas. Do outro lado da caminhonete,
nossa plantação continua pela mesma distância. Nos pontos onde a nossa
terra termina, de cada lado, existem mais fazendas com mais árvores de
Natal.
Quando desligo o aquecedor e saio, sei que o ar frio vai me queimar.
Prendo os cabelos em um rabo de cavalo apertado, enfio na parte de trás da
jaqueta de inverno volumosa, coloco o capuz sobre a cabeça e, em seguida,
aperto os cordões.
O cheiro da resina da árvore é denso no ar úmido, e o solo molhado prende
as minhas botas pesadas. Galhos arranham as minhas mangas enquanto tiro o
celular do bolso. Digito o número do tio Bruce e seguro o telefone no ouvido
com o ombro enquanto calço as luvas de trabalho.
Ele ri quando atende.
— Claro que não demorou muito para você chegar aqui em cima, Sierra!
— Eu não estava dirigindo tão rápido — digo. Na verdade, fazer essas
curvas e deslizar na lama é divertido demais.
— Não se preocupe, querida. Já assolei essa colina muitas vezes com a
minha caminhonete.
— Eu já vi, e foi assim que eu soube que seria divertido — digo. — De
qualquer forma, estou quase no primeiro feixe.
— Chego aí em um minuto — diz meu tio. Antes de ele desligar, escuto o
motor do helicóptero começar a girar.
No bolso do casaco, pego um colete de segurança de malha laranja e enfio
os braços nos buracos. A tira de velcro que atravessa o peito o mantém no
lugar, para que o tio Bruce possa me detectar do alto.
A uns duzentos metros à frente, escuto as serras zumbindo enquanto os
funcionários escavam os tocos das árvores deste ano. Dois meses atrás,
começamos a etiquetar as que queríamos que fossem cortadas. Em um galho
perto do topo, amarramos uma fita plástica colorida: vermelha, amarela ou
azul, dependendo da altura, para nos ajudar a classificá-las mais tarde
enquanto carregamos os caminhões. As árvores que não forem etiquetadas
serão deixadas para continuar crescendo.

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