A NATURALIDADE DE HOJE ÉO ABSURDO DO AMANHÃ


Num passado recente, a sociedade era dividida entre os livres, de
pele alva, e os escravos, de tez escura.
Para a grande maioria das pessoas que viviam na época, dividir a
cidadania pela cor da pele era uma circunstância que se aceitava –
ou com naturalidade, ou com resignação. Fosse você casa-grande,
fosse você senzala.
Como sociedade, não havia um inconsciente coletivo formado que
questionasse com firmeza essa segregação. Os poucos que o faziam
era na esfera privada – nunca pública. Brancos com medo do
julgamento alheio. Negros com medo da possibilidade de retaliação.
Essa crença era acatada e passada para as gerações futuras, que
continuariam a perpetuar um mindset: uns merecem liberdade.
Outros, não.
Hoje, a sociedade adquiriu o nível de consciência necessário para
condenar esse absurdo. Não por acaso, racismo é um crime
inafiançável. Mas até a Lei Áurea, até 1888, era assim que vivíamos.
Poucos tinham coragem de desafiar o status quo.
Como o racismo, podemos citar o voto feminino. Apesar de
algumas pioneiras, o voto como direito adquirido só foi decretado em
1932. Até então, boa parte da sociedade entendia que esse era um
contexto natural: homens votam; mulheres, não.
Não faz muito que a educação infantil era baseada na punição
física. Pais agrediam os filhos com palmadas. Professores aplicavam
castigos inconcebíveis para os dias de hoje, como ajoelhar no milho
ou o uso da palmatória.
Hoje, só de imaginarmos a violência contra uma criança, a
indignação é imediata.
Não faz muito que a sociedade se abriu para as diferentes
condições sexuais. Se pensarmos que, há algumas décadas,
qualquer coisa diferente da heterossexualidade era rapidamente
taxada de doença, evoluímos. E muito.
Para você ter uma noção, apenas em maio de 1990 é que a

Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade do CID –
Classificação Internacional das Doenças Vigentes.
E o que dizer do Apartheid? Só a partir de 1994, com a eleição de
Nelson Mandela, é que a África do Sul pôde enxergar um novo
horizonte de igualdade à sua frente.
Estamos falando de mudanças muito recentes. A abolição veio há
apenas 126 anos. O sufrágio feminino há 82. As mudanças no CID e a
Revolução de Mandela há menos de 30.
O que nos leva a uma óbvia conclusão: as verdades de hoje viram
os absurdos do amanhã.
Diferente de Claudio Ptolomeu – que garantia por A + B que a
Terra era o centro do sistema solar, e só teve sua teoria contestada
quatorze séculos mais tarde por Nicolau Copérnico – vivemos
tempos em que novas ideias surgem a todo momento, com a
capacidade de desmoronar verdades da noite para o dia.
E é com essa pretensão que proponho um questionamento: será
que não estamos tratando com naturalidade a forma como
estruturamos as empresas, os empregos e o trabalho?
Será que não estamos defendendo um modelo de que, daqui a
alguns anos, vamos nos envergonhar (justamente pela sua natureza
controladora)?
Será que não é hora de pensarmos em novas possibilidades?
Enquanto estivermos imersos em certezas, enquanto não
considerarmos novas alternativas, continuaremos fazendo tudo
como sempre foi.
Portanto, este livro é um convite a uma reflexão. Um convite a
uma nova forma de enxergar a autonomia do ser humano, e –
consequentemente – o empreendedorismo, a gestão e a vida
profissional.
Este livro é um convite a experimentarmos um novo formato de
trabalho.
Certamente para alguns soará absurdo.
Mas prefiro sempre ser o absurdo de hoje do que o absurdo do
amanhã.

OFUTURO DASEMPRESAS

A Revolução Digital nos fez despertar para uma nova consciência
em todos os níveis da sociedade. Como não poderia deixar de ser,
também afetou sensivelmente a consciência dos dois lados do
balcão: tanto de empregados quanto dos empregadores.
Estamos diante de um efeito dominó que nos levará para a
mudança mais radical na história do trabalho.
Num futuro próximo, não haverá empresas. Pelo menos, não
como elas são hoje.
Seremos todos freelancers/autônomos/profissionais liberais.
Você poderá exercer a atividade que bem entender. De manhã será
professor, de tarde motorista, e à noite, músico.
Tudo vai depender do seu interesse, da sua capacidade e da boa e
velha lei de mercado.
Para isso, os reguladores de hoje (diplomas e titulações) serão
ainda mais fluidos, permitindo que você literalmente exerça milhares
de atividades profissionais ao longo da vida.
Inclusive, essa é outra diferença. Não haverá profissões (condição
estática), apenas atividades (condição fluida).
As empresas (estáticas) darão lugar a grupos de trabalho
(fluidos), que se reunirão ao redor de propósitos comuns.
Eles durarão o tempo que fizer sentido para os participantes. E
não o tempo que fizer sentido nos contratos e nas suas respectivas
legislações.
Não haverá chefe ou contratante. As lideranças serão
circunstanciais e rotativas, nunca fixas. Portanto, não haverá cargos
(estáticos), mas funções momentâneas (fluidas).
O propósito e o legado serão os líderes invisíveis.
Todos os envolvidos serão sócios e entrarão em acordo
preliminar para definir suas responsabilidades – e, por consequência,
suas percentagens.
Será o fim das jornadas de trabalho de oito horas (estáticas) para
uma auto-organização no formato que melhor servir ao grupo
(fluido).

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