Não chegamos mais perto que isso


spero que ninguém encontre a gente aqui! Minha mãe me mata se souber que
estou longe desse jeito...” – Daniel pensou enquanto pedalava sua bicicleta. –
“Também, que me importa? Mais vale levar uma bronca do que ficar
mofando em casa.”
Olhou ao redor e rapidamente virou o pescoço para trás. Viu as casas
da cidade se afastando aos poucos, o asfalto dando lugar à rua esburacada de
terra. Um sorriso brotou no canto de seus lábios enquanto se levantava do
banco para pedalar com ainda mais força. Sentia a poeira da rua grudando no
seu rosto suado. A subida era íngreme e o reflexo do sol o fazia franzir os
olhos para enxergar o que havia mais à frente.
— Tá cansado? – Marcelo gritou, olhando ironicamente da outra
bicicleta.
— Onde estamos indo? – Daniel perguntou, já sem ar.
— Você vai ver quando a gente chegar lá! – Marcelo respondeu,
dando uma olhada rápida para Júlio.
— Acho melhor a gente voltar! – Júlio exclamou, limpando o suor da
testa.
— Tá com medo do quê, Júlio? – Marcelo riu.
— Não tô com medo de nada, você sabe que a gente não devia vir pra
esses lados! – Júlio respondeu, se esforçando para alcançar os outros dois.
Daniel pedalou mais rápido e se distanciou um pouco. Foi se
afastando rapidamente, até que de repente parou e desceu da bicicleta. Levou
a mão acima dos olhos para tampar o reflexo do sol.
— O que é aquilo? – perguntou quando Marcelo e Júlio se
aproximaram.
— Esquece, vamos embora daqui! – Júlio respondeu, já virando sua
bicicleta para voltar.
— Embora nada! Vocês me trouxeram até aqui, agora quero saber! –
exclamou Daniel.
— Mata do Anatema – interrompeu Marcelo com ar sério, olhos fixos

à frente.
— O quê? – Daniel perguntou, sem entender o que ele havia dito.
— Aquilo ali é a Mata do Anatema! – Marcelo repetiu mais devagar.
— Mata do Anatema? Mas o que é isso? Um parque? – Tornou a
perguntar Daniel, que não sabia se olhava para Marcelo, para Júlio ou para a
floresta.
— Não exatamente... – respondeu Marcelo.
— Esse lugar é fria e é melhor a gente sair daqui! – disse Júlio.
Daniel olhou novamente para a floresta, que parecia brotar no meio
do nada, destoando de todo o resto da vegetação ao seu redor. Ele se virou e
viu o olhar apreensivo dos amigos. Sorriu ao perceber que ali havia algum
mistério, algo não estava certo. Sentiu os pelos dos braços se eriçarem.
— Nossa! Esse lugar deve ser o bicho! Vamos até lá! Por que vocês
nunca tinham me falado sobre essa Mata do Anatema? – Daniel exclamou, já
subindo na bicicleta para seguir em frente, quando olhou para seus amigos e
percebeu que os dois não estavam tão animados com a ideia.
— Como é que é? – Insistiu. – Vão ficar aí parados com essa cara de
quem viu assombração? Qual é o problema com vocês? Estão com medo de
quê?
Marcelo olhou rapidamente para Júlio, como que pedindo conselho, e
respondeu:
— Nós não chegamos mais perto do que isso desse lugar!
— Por quê? – Daniel perguntou.
— Porque a Mata é mal-assombrada! – Júlio explicou. – Muitas
pessoas desapareceram aí dentro, é perigoso. Ninguém entra ali, na verdade
ninguém chega nem perto e nós já estamos perto demais!
Daniel continuava olhando encantado para a Mata. Não parecia ser
tão perigosa. Era meio esquisita, é verdade, mas o que poderia haver lá dentro
que fosse tão ruim?
— Qual é a desse lugar? – ele perguntou, virando-se.
— Não sabemos muito bem – Júlio respondeu. – Sabe essas coisas
que vão passando de geração pra geração? É mais ou menos isso. As pessoas
dizem que tem algum tipo de assombração aí e que quem entrar pode não
voltar mais, como muitos nunca voltaram.
— Mas isso só pode ser bobeira, coisa de gente antiga, lenda! – falou
Daniel.
— A lenda é realmente antiga e muitas pessoas entraram pra provar

que isso tudo é besteira, mas nunca saíram e os poucos que saíram estavam
sem memória, ou loucos... – Marcelo falou, sério. – Eu não entro aí.
— Nem eu! – Júlio concordou.

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